Artigo: Filha até o último suspiro

Autora: Mirinha, servidora do Ministério Público de Goiás
Eram seis da tarde quando a Dra. Larissa Curado — oncologista da mamãe, que havia deixado a festa de Réveillon de madrugada para atendê-la — saiu do quarto e disse que a partida estava próxima , mas poderia durar horas… ou dias.
Assim que ela saiu, me sentei num pequeno sofá para lanchar. Mas, de repente, um silêncio diferente tomou o quarto. Virei o rosto com pressa para ela e vi que a
Mamãe estava partindo. A respiração tinha mudado, estava lenta e espaçada . Quase se despedindo da vida.
Liguei para a médica, em prantos:
— Minha mãe está morrendo!
Enquanto ainda falava com a Dra. Larissa, algo maior me envolveu. Um manto de paz. Uma energia sagrada.
Quase pude sentir perfume de rosas.
Mamãe foi ela até o fim: firme, amorosa, planejada.
Eu senti, no mais profundo do meu ser, que ela queria me dizer:
“Está tudo certo. Eu estou bem. Fique bem para eu poder partir. Reservei este momento final para nós duas.”
Um momento de Delmira para Delmira.
Meu coração acalmou.
Segurei sua mão. Acariciei seus cabelos.
E comecei a cantar a música que ela sempre entoava em momentos de gratidão:
“Fica sempre um pouco de perfume nas mãos que oferecem rosas.”
Ela deu seu último suspiro. Cerrando os olhos, tombou suavemente a cabeça para o lado.
Eu senti como se o tempo tivesse parado, o mundo ficasse em suspenso. Era o fim de um ciclo. Missão cumprida com louvor.
