Por Márcio Souza, do JGDN

Bebida genuinamente nacional, a cachaça é a segunda bebida mais consumida no país, ficando atrás apenas da cerveja. De acordo com a pesquisa “A Cachaça no Brasil – Dados de Registro de Cachaças e Aguardentes”, a estimativa é que mais de 70 milhões de doses sejam consumidas diariamente. Passada de geração em geração, a tradição familiar foi o que motivou Pedro Vieira Lino, de 69 anos, a fabricar cachaça de forma artesanal. Criado e nascido no município de Orizona, cidade bastante conhecida pela produção da bebida, localizada no sul de Goiás, “Pedro da Pinga”, como é chamado por moradores na região, montou na propriedade rural um alambique, depois de ir para a capital, Goiânia, trabalhar no ramo da cerâmica.

“Ficar na Capital foi a mesma coisa de estar preso. Voltei para Orizona depois de um ano, comprei uma terra e mandei fazer um alambique pequeno. Nem engenho tinha. Eu pegava a cana, dividia meio a meio, buscava de carro de boi, moia e fazia o processo artesanal. Depois do primeiro ano, comprei um engenho. Foi aí que eu comecei pra valer na produção”, recordou.

Assim como seu avô, lá na década de 1970, é da produção da cachaça artesanal que Pedro tira o sustento da família. Ele conta que no começo passou por muita dificuldade em produzir e vender o destilado. “Na época, meu irmão também mexia com cachaça aqui na região de Orizona, e só a pinga dele era conhecida. Depois de produzir a minha própria cachaça, fui tentar vendê-la, mas ninguém comprava. Andava a pé o dia todo e não conseguia vender”, conta ele ao lembrar-se que ao chegar em casa, sua esposa, Marta Vieira, perguntou como tinha sido o dia de trabalho. “Falei que não tinha vendido nada. Ela disse para mim largar isso, pois se a gente fosse depender da cachaça, iríamos morrer de fome”.

As coisas foram melhorando para Pedro quando os moradores de Taquaral passaram a ir até ele em busca de cachaça.

“Meu irmão estava vendendo muita cachaça, mas por fim a pinga dele acabou. Algum tempo depois, começou aparecer pessoas perguntando se eu não tinha pinga para vender. Levavam 5, 20, 50 litros, e assim foi aumentando a clientela”, contou o orizonense.

O filho do produtor rural, Marcelo Vieira Gomes Lino, de 31 anos, trabalha com o pai desde os quinze anos de idade. É na safra que a rotina de mais trabalho ocorre, geralmente entre julho a outubro e, segundo ele, exige muito esforço e dedicação.

“Levantamos por volta das 2h da manhã. A produção da cachaça se estende até meio dia. No período da tarde fazemos entregas na região. Quando vamos deitar, já estamos bem cansados. É bem corrido, mas a gente vai pegando amor pelo trabalho. Eu gosto bastante”, afirmou Marcelo com sorriso no rosto.

Pai e filho contam com a ajuda de 14 funcionários. Eles ficam responsáveis pela colheita, transporte e realização da moagem das canas.

O processo da fabricação da cachaça demora, em média, dois dias. Porém, até que fique boa para o consumo, ela precisa ser “envelhecida” por pelo menos um ano, prazo necessário para que o sabor chegue ao ponto desejado. “Só depois de armazenada por um ano, é que engarrafamos os litros e comercializamos”, ressaltou Pedro.

O proprietário garante que a cachaça artesanal é bem melhor que a industrializada.

“Na cachaça artesanal, fazemos a fermentação, milho, garapa, e a destilação artesanal, sem o uso de químicos. Já, na cachaça industrializada misturam açúcar, água e álcool com fermento, além de barrilheiro da cinza”.

Para ele, o alambique menor garante a melhor cachaça. “Eu só trabalho com os mais antigos. Ao invés fazer um alambique grande, mandei fazer oito pequenos. Durante o processo, a cachaça deve ter a quantidade de vapor adequada para escorrer. Se o vapor for muito além, e ele escorrer grossa demais, fica com gosto de fumaça, e não presta”.

De acordo com Pedro, a cachaça branca é mais consumida em Orizona que a colorida, enquanto em outras cidades próximas do município, a bebida colorida é mais apreciada.

Com o avanço da pandemia do novo coronavírus, o movimento nos bares e mercados diminuiu drasticamente. Contudo, segundo Pedro Vieira, não afetou de forma direta a venda da cachaça na região.

“Se antes vendíamos vinte tubos por semana, hoje estamos vendendo cinquenta. O pessoal que bebe no boteco vai no mercado, compra e leva para casa. Quem bebe uma dose, bebe duas, três… Então vantajoso para nós”, concluiu.

Fotos: Divulgação