Mulheres protestam a favor de aborto de menina grávida aos 10 anos: “Gravidez forçada é crime”
Por Bábara Zanatta, do JGDN
Após a militante de extrema-direita Sara Winter, divulgar o local em que uma criança, de 10 anos, vítima de estupro estava internada para realizar um procedimento para interromper legalmente a gravidez, o hospital em Recife virou palco de protestos de grupos religiosos opostos ao aborto e de mulheres em apoio a decisão da menina.
A jovem de 10 anos que mora no Espírito Santo, foi levada a Recife após ter o pedido negado pelo hospital Universitário Cassiano Antônio Moares, em Vitória, mesmo após a autorização da justiça:
“Na vida de uma criança de 10 anos, que vem sendo estuprada há 4 anos por um tio, essa criança depois de ser violentada, engravidou fruto desse estupro, e os fundamentalistas estão aqui para dizer que a vida dela não importa, para colocar a vida de uma menina de 10 anos em risco”, diziam dezenas de mulheres.
As mulheres lembraram que aborto após estupro tem amparo legal no país e ainda afirmaram que ”gravidez forçada é tortura” e ”gravidez em menor de 18 anos (10 anos) é morte”.
O grupo também pediu a legalização geral do aborto no país, ação ainda restrita pelas leis brasileiras por meio do serviço público de saúde no caso de a gravidez ser resultado de um estupro, risco de vida para a mãe ou em casos de anencefalia do feto.
”É por isso que a gente vai dizer e repetir: aborto legal, seguro e gratuito para não morrer. Pela vida das meninas e das mulheres. Legalizar sim. O corpo é nosso, é nossa escolha. É pela vida das mulheres”, gritavam elas.
No fim da tarde, um grupo religioso (católicos) se reuniu em frente ao hospital para pressionar a família da jovem, a fim de não realizar o procedimento.
O grupo protestou, ajoelhou e cantou em frente a unidade de saúde.
De braços dados, eles chamaram o médico responsável pelo procedimento de ”assassino” e ainda utilizaram páginas no instagram para divulgar imagens do ato.
O local ainda foi palco para confusão e bate boca entre vereadores e deputados conservadores, ligados a igrejas evangélicas que tentavam impedir o procedimento.
Entre eles estavam dois deputados estaduais, Joel da Harpa (PP) e Clarissa Tércio (PSC).Há relatos ainda, de que o grupo tentou invadir o local.
Entenda o caso
Segundo a Polícia Civil do Espírito Santo, a criança, de 10 anos de idade, era vítima de estupros havia quatro anos pelo tio dela, de 33. O caso chegou ao conhecimento da polícia capixaba no dia 8 deste mês, quando a menina deu entrada num hospital público da cidade de São Mateus, a 220 km de Vitória, com suspeita de gravidez. O tio da criança foi indiciado pelo crime.
O Tribunal de Justiça do Estado do Espírito Santo já havia dito ao site da uol, por meio de nota que ”influências religiosas e morais” não definiriam o futuro da gestação da jovem.
”A Secretaria de Saúde de Pernambuco (SES-PE) informa que segue a legislação vigente em relação a interrupção da gravidez( quando não há outro meio de salvar a vida da mulher, casos de estupro ou diagnosticadas com anencefalia), além dos protocolos do Ministério da Saúde (MS) para realização do procedimento, oferecendo a vítima assistência integral e multidisciplinar. É importante ressaltar, que há autorização judicial do Espírito Santo ratificando a interrupção da gestação. Vale reforçar, também que o Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros ( Cisam-UPE) é referência nesse tipo de procedimento e acolhimento das vítimas. Por fim, frisa-se que todos os parâmetros legais estão sendo seguidos rigidamente”, diz a nota.